Rascunhos da Alma

Algumas pessoas já me ouviram falar e alguns leitores do blog já devem ter percebido: sou completamente incapaz de escrever sobre felicidade. Talvez porque estar feliz me faz pensar pouco. Eu reflito muito mais em momentos tristes, ou que não me agradam de modo geral. Acho que todos são assim, na verdade. Então, acho curioso, mas não me incomodo com isso. Porém, há algo que me incomoda: não consigo escrever sobre música também.

Apesar da falta de prática (graças a faculdade), os anos que estudei e estive altamente envolvido com a música não se foram. Portanto, me considerarei músico sempre. Agora me respondam, por favor. Que tipo de ser é esse que escreve, se considera músico e não consegue escrever sobre música!? Bem, a verdade é que jamais consegui expressar em palavras o que a música me faz sentir. Um grande escritor certamente seria capaz, mas não me sinto tão culpado. Afinal, vai ver esse é o verdadeiro sentido da música. Deixar que o corpo expresse o que a boca já não é mais capaz de ditar.
Mas a verdade é que eu ainda me pego pensando nisso. Então, hoje me contentarei em listar algumas músicas que na minha opinião são "incríveis" e que quando tocam de surpresa me tiram do chão e me fazem esquecer da vida.

obs¹: Não são as músicas mais bonitas e sim as que mais mexem comigo.
obs²: Não se atentem ao vídeo, sintam a música (minha dica).

Tears For Fears - Woman In Chains
Essa tinha de ser a primeira, sem dúvidas. Ouço essa música desde pequeno e ainda assim me surpreendo ouvindo-a. Por que essa música? Preste atenção na evolução dela. A música está sempre crescendo, sem ser barulhenta. A cada 2 ou 3 compassos a música soma um novo elemento, que faz toda a diferença. E ela permanece evoluindo assim até seu pico.
A letra da música também é muito bonita, vale a pena ouvir com atenção.
Para mim, o ápice dessa música está em 4:36. Quando você não imagina que ela possa crescer mais, ela o faz. Claro que na teoria ela continua com os mesmos elementos, mas o resultado é incrível!

Kenny G - Home
Falando em evolução, essa música é demais! Muita gente acha as músicas do Kenny G "paradonas" e algumas são mesmo, mas perceba a urgência nesta música. Ele consegue dizer muita coisa, sem usar palavras. Na minha opinião, o sax é um homem em meio a uma discussão com uma mulher. Tem muita raiva e muita paixão envolvidos. Ele tenta argumentar algumas vezes, mas quando preciso, fala sem parar e berra também, por estar esgotado. Depois de desabafar, ele cansa, fala manso, deixa suas ideias mais claras e termina se declarando é claro.
Entre 1:29 e 1:59 fica claro o "desabafo" que tanto gosto. Em seguida a música toma uma postura muito mais "segura".

Alan Silvestri - Everything about you
Continuando a serie instrumental, essa música é incrível. Também me parece um diálogo, mas interno. Penso em uma pessoa refletindo sobre sua vida. Conversando consigo mesma, assumindo posturas diferentes, que é muito bem retratada pelos instrumentos. Perceba como eles se respondem o tempo todo.
Em 1:13 a "voz" muda completamente. Parece que, por um instante, o diálogo assume uma postura mais responsável, quase mandona.

Gabriel o Pensador - Pra Onde Vai
Essa música é simples demais, mas me ganha nos detalhes. Para começar ela possui uma levada gostosa muito bem acompanhada por vocais muito talentosos.
O Gabriel Pensador não se destaca por cantar bem e sim por suas ideias. Nessa música isso não é diferente. A letra não conta nenhuma novidade, infelizmente. Mas pára a nossa correria do dia-a-dia para expôr as injustiças do nosso mundo e as fatalidades da vida, que só podemos aceitar.
Quando se conta essa história com uma música leve, não tem como não mexer com quem ouve.
Apesar de ser simples, gosto muito do improviso do backing vocal, que tem uma voz muito boa, aos 3:40.

Cold Play - Fix You
Falando em contar história com música boa, Martin faz isso muito bem. Essa música tem um pouco de vários elementos que já falei aqui. Ela tem uma evolução lenta, mas bem definida, que te mantém à espera de algo incrível. Não sei explicar bem. Mas mesmo com uma harmonia simples, essa música me compra fácil. Letra e melodia foram feitas uma para a outra e nada diferente seria melhor. É uma música que te faz pensar na vida, rever sua trajetória e pensar prioridades.
Acho que assim como todo mundo, 2:25 é o momento da música.

Marillion - Beautiful
Não diferente da música acima, essa combina uma boa letra com uma boa melodia e uma evolução que te prende a atenção. Mas não pense que são iguais. Poucas pessoas conhecem essa música e se você se identificou com "Fix You" pelas mesmas razões que eu, vale apena conhecer essa também.
"Beautiful" tem uma introdução mais marcada pela melodia, que é bem definida pela guitarra (sensacional, na minha opinião).
Coincidentemente, meu momento escolhido para essa, também é aos 2:25.

Tchaikovsky - Swan Lake Waltz
Mudando completamente, da água para o vinho...Tchaikovsky. Ok, não preciso dizer que ele era um monstro, né? Um animal...não sei nem por onde começar.
Essa peça tem muitos níveis e o que mais me espanta é como ele consegue fazer as frases da música conversarem. O modo como ele muda uma sequência melódica em outra completamente diferente, mas sem um pulo abrupto é incrível. Sem contar que ela possui, suspense, fanfarra, drama, meiguice, alegria, leveza e muito mais. Dá para falar uma hora só sobre esses 7:20 de música.
É super arriscado escolher um melhor momento, já que é tudo muito bom, mas para não fugir à regra ressaltarei os 05:04.

Fábio Jr - Não Me Condene
Eu conheci essa música por causa da minha mãe e sou muito grato por isso. A letra é bonita, apesar de curta e muito simples; o instrumental da música é maravilhoso (uma pena não ter achado um video com qualidade melhor); e utilizando muito bem esses elementos, Fábio Jr e a Fat Family brincam com as vozes o tempo todo. Apesar de alguns gritos desnecessários, acho extremamente bonito o resultado final dessas vozes. Ao final, o saxofonista acompanha a música com uma frase perfeita para o momento.
Imagino que poucos gostarão dessa aqui, mas ela mexe comigo, pelo resultado final.
Vou escolher 2:35 para essa música, pelo sax, já que o vocal é bom em toda a música.

Whitney Houston - The Greatest Love Of All
A pergunta aqui é "como não escolher Whitney Houston?". Vamos, só por um momento esquecer a letra, que é linda, e o instrumental que é muito bom. Como ela consegue ter esse grave e esse agudo na mesma voz? Além disso, possui um controle vocal maravilhoso e uma capacidade de interpretação que pode parecer simples, mas qualquer um que tenta copiar faz feio. Se você juntar tudo isso com uma letra profunda e uma melodia muito boa, você terá essa música incrível que preciso ouvir muitas vezes seguidas para enjoar.
Fico com 3:47 como destaque, pois aqui ela consegue mostrar em poucos segundos tudo o que falei.

John Mayer - Gravity
Eu gostaria de lembrar quando ouvi essa música pela primeira vez...
Só de ouvir a introdução dela eu paro o que estiver fazendo. É como um anúncio, para mim. É a guitarra te dizendo para prestar atenção. Então, John Mayer começa a falar sobre gravidade com analogias que cabem muito bem. E é só! A música é uma base, a bateria e a voz dele. Até que chega o solo... Cada nota que ele poem nesse solo, não poderia ser trocada por nenhuma outra. É feito sob encomenda. Aí, quando você imagina que já está bom, eis que entram uns vocais para deixar aquela sensação de "estou nas nuvens, a gravidade me deixou". É simplesmente perfeita!
Claro que o momento dessa música será o solo, em 2:06.

Para concluir, preciso dizer que esse texto não é um top 10. As músicas estão ordenadas conforme suas descrições me vieram a mente, salvo a primeira e a última que são especiais para mim, então eu quis que abrissem e fechassem a sequência.
Fiquei feliz com o texto, mas longe de mim estar satisfeito. Queria poder sentar ao lado de quem quisesse escutar e comentar cada pedaço da música. Ainda assim não sei se eu conseguiria transmitir o que as vezes sinto só de ouvir uma música.
Música é tudo!

Comentários

Anônimo disse…
Cá estou, novamente! Comecei meu domingo (re)lendo alguns de seus posts. Eles sempre chamam minha atenção, rs. E fico imaginando como seria se você fizesse uma releitura, falando do que mudou, o que permanece etc.

Neste, os momentos que chamaram minha atenção, vulgo, fiquei curioso, rs, foram: 1) Sobre escrever alegre? (Já consegue?) 2) Qual seu envolvimento com a música? Instrumentista ou cantor? 3) Mudaria as suas indicações? (Muito boas, por sinal!)

E, por fim, fiquei curioso se as indicações fossem de filme... Quais que você escolheria?

Finalizo deixando uma canção que é de um dos meus filmes favoritos, gênero musical (logo, caberia nas duas situações, rs): "Falling Slowly", do filme ONCE (Apenas uma vez, título em português).
Creio que adicionaria em sua playlist (pelo menos, nessa época do blog).
Rustam Mesquita disse…
Well, continuo completamente incapaz de escrever textos quando estou feliz. Eu não paro para refletir quando feliz, apenas vivo intensamente. Escrever sobre felicidade então é ainda mais difícil. Talvez seja porque a felicidade não cabe em mim e sem retê-la não posso descrevê-la. Ela apenas flui de mim para o mundo.
Minha relação com música é intensa e de longa data. Falar sobre amor é imensamente mais fácil que tanta descrever o que eu sinto ao ouvir ou tocar uma música boa.
Sou um humilde cantor de chuveiro e de carro. E um instrumentista enferrujado que um soube tocar bem piano e saxofone.

De cabeça não me vem nenhuma troca a ser feita, mas escolher músicas favoritas é sempre difícil. Por fim, para fazer o mesmo com filmes é preciso pensar, mas certamente recomendo "Meet Joe Black", "What Dreams May Come" e "About Time".

Conheço essa música na versão maravilhosa do Josh Groban. Recomendo. Ela é realmente linda.
Anônimo disse…
Rustam, sei que aqui não é um chat. E que já utilizei minha cota de resposta! (hahaha) Mas, impossível não comentar sobre! (:

Ainda sobre escrever em felicidade, rs. Achei fantástico a sua colocação sobre não parar para refletir, e, apenas, viver intensamente. CONCORDO em gênero, número e grau! rs Em contraponto, lembrei desta geração em que se parecer é mais importante do que ser. Que perde vários momentos para realizar o registro de fotos e/ou vídeos, seja de shows, teatro etc, e se esquece de viver aquele momento, aquela oportunidade única. Pois, para se ter a experiência é necessário entregar-se, por completo.
Porém, o que me deixou instigado fora nunca conseguir escrever... Como se projetasse a felicidade em algo ou alguém, e assim, fosse passageira. Como se o estado de felicidade estive fora, e não dentro de ti. Enfim, espero um dia ter a oportunidade de falar sobre! kkkk

O senhor é um caixinha de surpresas! rs (Boas, claro!). Além de possuir uma ótima escrita, ainda tem a habilidade musical. Mais ainda por tocar cordas e sopro! Ambos precisam de muitas técnicas especificas, principalmente a respiração, no segundo. E ler partitura! rs Enfim, creio que a música te trouxe essa sensibilidade à vida, essa maestria de retirar o belo do cotidiano, rotina.

Sobre os filmes, só conheço "Questão de Tempo". Além de gostar do filme em si, amo a referência à Amélie Poulain (no quarto do Tim).
Anotado as indicações. Pode deixar que não comentarei sobre, apenas, as experienciarei!

E por fim... Como assim? Você consegue melhorar a minha indicação?! rs (Ouvindo-a agora em meu fone!)
Só conhecia a versão original e achava que não houvesse uma melhor. Assim que começou, me chamou a atenção pela bateira e violino, diferente da versão acústica. Mas, quando começou a cantar, achei que não iria gostar! rs Cantor lírico! (Por já possuir um carinho enorme pela primeira versão). Porém, me ganhou por completo no refrão. Pensei que ele fosse baixo, ou barítono, mas acho que é tenor! Que falsetes! Como ele consegue fazer tão perfeitas essas notas graves, e depois executar lindamente as agudas? :O Essa interpretação dele, juntamente da banda deu uma leveza. É como se fosse um clássico mais próximo, rs (não sei explicar!). Digamos, mais popular! Sem falar no acréscimo dos instrumentos... Ela é crescente, toda a música! Até mesmo, a segunda estrofe tem a bateria mais marcante. Com isso, vai nos envolvendo. O momento clímax para mim é na ponte (a parte que antecede o último refrão, no trecho em 3 minutos). CONTAGIANTE! Os solos de guitarra e, creio que violino, brilhantaram!
Você me permitiu vê-la por uma nova perspectiva. Experiência maravilhosa.

Sendo assim, só resta-me agradecer-te!
Muito obrigado!
E ótima semana!

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