Sem Dúvidas, Sem Certezas...

De repente dei por mim, deitado no banco de trás do carro. Não consigo lembrar se eu tenho uma lembrança mais antiga que essa, mas a sensação que tenho é que a vida acabara de começar. O mundo todo estava de cabeça para baixo: as nuvens pareciam um mar de algodão, as árvores pareciam plantas de outro planeta e os prédios, plantações esquisitas de concreto. Era uma sensação estranha e ao mesmo tempo boa, ver tudo ao contrário. Quando o carro parou, eu não conseguia tirar os olhos daquele muro de pedras amarelas. A graça da brincadeira era imaginar tudo certo, mesmo vendo de cabeça para baixo. Mas devido à inclinação da ladeira onde o carro havia parado, eu não pude. O muro não tinha início nem fim e confundiu meu cérebro. Me desvirei com ansiedade e então vi "A Casa". A parede de pedras amarelas que eu vira, era na verdade, a lateral do segundo andar (apenas). O muro que delimitava o terreno era muito maior e tinha um formato de escada engraçado. Dentro da garagem havi

Com a respiração pesada e sem forças para sequer controlar os músculos da face, eu caminho. Me arrasto, passo a passo, como se o mesmo cupido que me acertara, agora me puxasse pelo peito, com toda força. É quase inacreditável como é difícil me locomover. Sinto-me fraco. Anseio por qualquer coisa que mantenha-me ocupado, mesmo sabendo que a realidade pode vir à tona. Ainda é melhor que deixar minha mente livre, solta para varrer lembranças agoniantes. Quando me deito, não sei mais o que pedir a Deus. Restaram apenas os porquês. Mas o tempo vai passar e o peso vai diminuir. As músicas vão perder o sentido, a comida vai voltar a ter gosto e toda a simbologia irá perecer. Me apaixonarei por uma mulher menos incrível. Beijarei lábios que não criam um mundo quando tocam os meus. E entrelaçarei os dedos com uma mão que não é tão pequena.  Mas jamais dançarei um abraço novamente.

Há muita poesia e filosofia sobre o amor. Sobre como pode doer mais que um acidente, ou compensar toda uma vida de sofrimentos. Será mesmo? Se avaliarmos o amor como uma ação da bolsa de valores, ele vale o risco? Você sabe o que está apostando? Você consegue perceber, ao longo do relacionamento, quantas apostas está fazendo? Se você tem a oportunidade de amar e não o faz, está perdendo muito. Você não sabe como é amar e ser amado com um olhar. Não sabe como gostoso pensar em um futuro juntos. Não sabe como é querer mimar uma pessoa pelo que ela é. Ser grato pela existência dela. Você não sabe como é sentir que sua vida vale mais porque aquela pessoa está presente nela. Por outro lado, você que ama, sabe mesmo tudo o que está em jogo? Quando se entrega a alguém de corpo e alma, suas vidas se fundem, querendo ou não. Suas músicas preferidas se tornarão as preferidas do outro, assim como a melhor série, o melhor filme e o melhor restaurante. Não porque um dos dois não tem personalidad

Nas idas e vindas da vida, muito se fala sobre justiça. Justiça do ser e do bem. Justiça do homem, que é sempre feita com as próprias mãos, seja de punho, armado, ou com o bater de um martelinho. Nas intempéries da nossa jornada, cada ação é, sempre, simplesmente uma consequência de um acontecimento anterior. Aqui, mergulhados em tanta displicência e pouco caso para com o próximo, torcemos para que tudo ocorra bem. Afinal, se der mesmo errado, quão justa é a justiça, ainda que seja feita? O ciclo da vida existe, mas a vida está longe de ser equilibrada. A balança está definitivamente quebrada. No balanço desse mar, há um vai e vem de vidas incontrolável. E para não ser mais uma, fazemos de tudo. A cada onda próxima repensamos nossas atitudes e fortalecemos nossa religião. Mas quando a onda vem, o importante é não ser atingido e nada mais importa. Nesse vai e vem questionável e angustiante perdemos parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos. Perdemos pessoas que nunca for

Linda e sutil como uma estrela no céu, você chamou minha atenção. E desde então tenho te admirado. Em posse de um título simples e uma das ilustrações mais belas que já vi, nunca se vendeu pela capa. Ao contrário, foi pelo conteúdo que me conquistaste. Me encantei por suas músicas, me perdi em seus sorrisos, me viciei no teu beijo, me inquietei pelo seu olhar, me encontrei no seu cantar e me apaixonei por suas ideias. Que na ansiedade de te ver eu não me esqueça do porquê. Em meio a tanta confusão, você é simplesmente você.

Há um mundo bem menor! Um lugar escondido. Tão pequeno, que não é capaz de conter as preocupações cotidianas. Ali também não cabem segredos, tão pouco medo. Sua imensidão, no entanto, pode ser contemplada por aqueles que vivem de emoções. Se é minúsculo fisicamente, em matéria de sentimento é capaz de guardar galáxias inteiras. Nesse planeta, onde o tempo passa mais devagar e os sentidos se confundem, minha percepção vai muito mais além do que a extensão do meu corpo.   Com o coração acelerado e a respiração mais pesada, minha visão e audição fogem de mim. Na verdade, tudo o que tenho é meu olfato. Através de uma sinestesia inexplicável, ele me permite ver, ouvir e viver sob essa atmosfera incrível. Se eu pudesse, eu moraria lá. Mas esse lugar é tão mágico que não existe para sempre. É um paraíso, que é criado e destruído constantemente. Um mundo inteiro, que começa quando nossa respiração se cruza e termina quando nossos lábios se encontram. Porque na eminência do seu beijo,

Me debato contra o vento e reluto com cada parte do meu corpo. Não consigo me portar, pois não sei como ser e nem estar. Sinto como se cada parte do meu corpo quisesse correr para um lado diferente, provavelmente à sua procura. Mas se quer sei onde você está agora. Minhas mãos estão sobrecarregadas. Buscam em vão o teu corpo e no desespero de não te encontrar, se perdem. Alternando entre palmas abertas e punhos fechados, não sabem se acalmam meu peito ou se descontam a raiva nos travesseiros. Quero fugir desse mundo em que a sua ausência é normal. Basta fechar os olhos para te ver e dói! Se os abro, você não está, e dói ainda mais. Às vezes eu queria que meu coração parasse um pouco. Só para eu lembrar como é viver sem dor. Eu não vou seguir em frente, eu não vou te superar. Me vestirei da dor de te amar e a saudade será o meu relógio.

A sala é quieta e cheia de pensamentos. Não pela presença da morte mas sim pela ausência da vida que um dia existiu. Ali, tudo e nada coexistem em plena harmonia. Talvez, seja o único momento em que o vazio preenche e basta! Acredito que mesmo quando levados ao extremo, nunca expressamos exatamente o que sentimos. Por isso, só você sabe como é ser você. Somente sua boca compreende o quão verdadeira foi aquela gargalhada. Seu coração é o único que sabe como foi difícil continuar batendo depois daquele adeus. E só seus olhos conhecem as verdades que foram ditas, mas aprisionadas pela boca. Por anos a matéria guardou tudo o que esse alguém já foi. Registrou e foi registro de cada ação, desde as mais vitais e inconscientes até as mais brutais. E agora, esse corpo que um dia foi representante da alma, não significa mais nada. A essência do ser se esvaiu. Aqui, na eminência do partir, tudo está lacrado. Em minhas mãos possuo tudo o que restou. Um cofre que não pode ser aberto. U

Hoje eu vim à praia. Não devia! Há muitas coisas sobre o mestrado rodeando a minha mente, mas talvez por isso mesmo é que eu tenha vindo. Então, não sei que dia é hoje pra você e nem onde você está, mas você pode se projetar na praia se quiser, pois é aqui que esse texto está sendo escrito. Muitos dias marcam as nossas vidas e eu diria que se há uma lembrança é porque houve uma marca naquele dia. Nossa memória pode ser (e em alguns casos é) transformada em um filme. E assim como nos filmes, existem os personagens principais (você) os personagens amigáveis e os rabugentos. Digo isso pois eu lembro desses personagens nas minhas lembranças. Então, eu queria saber: quem é você na lembrança de outra pessoa? Como eu estava dizendo, hoje eu vim à praia. Eu queria silêncio. Eu queria ouvir apenas o mar. Eu não estou empolgado com tatuis nem com as ondas, mas essa criança está. Entre gritos e risadas ela quebra o meu silêncio. Eu poderia ser rabugento agora. Aliás, me conhecendo eu diria

Em toda variedade de vida que há, os animais são capazes de realizar grandes feitos. Mas talvez, nenhum deles seja tão incrível como a formiga. São certamente seres incríveis! Trabalhadoras impecáveis, as formigas criam estruturas espantosas para sobreviver. Outros animais são mais fortes, mais poderosos, mais ágeis ou menos preocupados. Seja como for, eles trabalham menos. mas alcançam os mesmos objetivos das formigas. Por vezes é óbvio que o pequeno inseto necessita se esforçar mais que os outros, mas é realmente necessário? As vezes me parece que as formigas são exigentes demais. Pense bem, elas realmente precisam de tudo aquilo? Me parece que nunca estão satisfeitas. Ou que põem defeitos em suas próprias criações e em seguida começam uma nova. São trabalhos atrás de trabalhos, todos diferentes, mas que cansam igualmente. Penso que tudo não passa de um vício. O que importa é estar trabalhando e não o projeto. São viciadas no trabalho e não nos seus resultados. Quero dize

Sua vida vai bem, com altos e baixos, como de costume. Até que você a conhece... Linda, inteligente, meiga, determinada, independente, carinhosa, divertida, preguiçosa, teimosa e tantas outras coisas (você presume).  Qualidades e defeitos, perfeita por ter suas imperfeições, ela simplesmente te nocauteia. Mas por quê? Não estou falando de qualquer mulher bonita, ou de uma que dê mole. Pouco importa também aonde a conheci. Se me foi apresentada ou não. Mas o fato é que algumas (poucas) vezes, simplesmente fico encantado. Me pergunto então se ela me lembraria uma paixão de infância ou uma personagem de algum filme, mas não consigo chegar a nenhuma conclusão. Não é amor a primeira vista, com certeza não. Talvez seja algo realmente menos racional.  Na natureza, os animais precisam se exibir para chamar atenção do sexo oposto. Assim,  me pergunto se foi seu jeito de andar, mexer no cabelo, falar, morder o lábio, fazer careta e sorrir. Vai ver é só coincidência mesmo que, enquanto man

Oh coisinha terrível! Meus amigos da psicologia (que já não são poucos), me perdoem. Sei que não existe só um tipo de ego, mas se me permitem, falarei do ego de forma "geral",  como um só. E sendo assim, repito "Oh coisinha terrível!". Eu não escrevo um texto desde agosto do ano passado. De lá até hoje, eu me formei, me mudei, entrei para o mestrado e passei por diversas outras coisas que me fizeram quase escrever (faltou-me tempo). No entanto, nenhuma dessas situações me pareceu tão urgente quanto falar sobre o seu Ego, meu querido leitor. Atualmente tenho visto opiniões tão fortes que a única explicação que vejo para isso é um ego inflamado. Mas vamos ver se eu consigo lhe fazer perceber isso: Por quê que sua posição política é tão melhor que a de seu próximo? Você nunca se enganou? Digo, eu imagino que você pense estar correto é claro. E talvez esteja, talvez não. Mas você é capaz de me afirmar que em toda a sua vida, você nunca teve certeza de estar certo e