Os corajosos de hoje


Antes da existência das redes sociais, para que um assunto fosse debatido era preciso que fosse importante. Algum acontecimento que tivesse sido notícia nos jornais, ou até mesmo um boato veiculado, mas que pudesse trazer consequências reais e não positivas causava fervor nas rodas de amigos ou colegas com convivência diária, como no trabalho por exemplo. Mas hoje em dia tudo mudou. Existe o facebook!
Ah, o facebook. Um ótimo lugar para expor suas opiniões sem pensar!

A meu ver, antigamente, as pessoas não compartilhavam ideias fortes com qualquer um. Todo mundo sabe que expor sua opinião pode gerar discussão e eu acredito que a maioria das pessoas não gosta de perder tempo discutindo (a maioria, disse eu; não todas). Mas hoje, você é "obrigado" a "ouvir" pensamentos e opiniões de pessoas levemente conhecidas, daquelas que você conheceu em um aniversário, ou até mesmo de alguém que você não conhece.

Mas o problema não é esse. O problema é que pelo facebook todo mundo é corajoso. Todo mundo "fala mesmo", todo mundo é autêntico.
O cara é incapaz de decidir em quem votar em meio a uma condução política terrível; incapaz de descer até a esquina para uma passeata que visa defender seus próprios direitos. Mas esse mesmo "cara" tem bastante "coragem" para abrir uma discussão em sua página, com outro "cara" desconhecido só porque suas ideias diferem. Aparentemente para essa pessoa, foi demais, foi a gota d'água ouvir uma opinião diferente sobre um assunto inútil ou sobre um fato que não pode ser mudado (como quem é a melhor banda, ou a morte de um cantor).

E por isso, cada vez mais caminhamos para a era dos cachorros, daqueles que ladram mas não mordem. A era daqueles que se escondem atrás de perfis, descrições e frases de efeito. Um tempo em que se vive para ter uma boa imagem. Um tempo em que mais vale ganhar uma discussão na internet, do que a liberdade no mundo real. Um tempo em que os cavalheiros se armam de instagram, vídeos e declarações falsas para uma guerra que não existe, enquanto a guerra aqui fora continua para valer.

Não entendo o quão ruim pode ser uma música a ponto de seu compositor merecer a morte.
Não entendo qual é o pecado de fazer luto por alguém que partiu.
Não vejo problema em gostar da música de um cara que tinha (assim como todos) alguns problemas pessoais.

Nunca fui fã do Chorão, ele não marcou minha adolescência, mas ainda assim não acho que ele merecia morrer. Não julgo quem gostava dele e vai sentir sua falta. E por consequência lógica dos argumentos apresentados aqui, eu jamais me sentiria incomodado com o luto dessas pessoas.
Então, eu gostaria de entender, de onde veio a gana dos corajosos cavalheiros que (sem alma) compartilharam ideias e mais ideias desrespeitosas sem propósito algum, apenas por que não "suportaram" ler certas coisas. Se têm sangue tão quente e não suportam tais atitudes, porém não se pronunciam em nada quanto aos problemas sociais e políticos que nos envolvem a cada dia, só posso assumir que ficam presos em casa, sem acesso às ruas, ou notícias importantes.

Resumo da obra? Vou torcer para que o facebook crie uma página só para acompanhamento de obras, criação de leis e propaganda política. Quem sabe assim as coisas não começam a funcionar?

Comentários

thiago camara disse…
Mais um texto excelente, Rustam! Grande Abraço

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