A Arte de se Apaixonar


Alguns casais se apaixonam bem cedo e ficam juntos para sempre - dure esse para sempre o quanto durar. Conheço muitas histórias assim. Tenho amigos ainda jovens com planos para se casar, amigos recém-casados, conhecidos que já são casados há anos e conhecidos que fizeram juiz ao juramento "até que a morte nos separe".
É realmente incrível pensar como algumas pessoas se encontram na vida. Como a história de cada um levou ao encontro do outro, como elas se complementam e como parecem que foram mesmo forjadas pelo destino.

Esses romances geralmente têm um início bem peculiar, engraçado e cheio de paixão, que sela a relação até o estágio onde a história do casal passa a ser uma só. Mas apesar de todo o rebuliço, não posso deixar de pensar que essa paixão é bem diferente daquela que nós sentimos. Nós, que não encontramos alguém tão cedo.
Nós temos nossos momentos de casais e de solteiros. Fases que se alternam. Mas de tempo em tempo nos apaixonamos.

Alguns de forma mais segura e ressentida, pois as experiências anteriores lhes cegaram o coração e os fizeram acreditar que tudo sempre será igual. Que o amor será sempre um sonho, que a paixão é uma droga e que relacionamento é uma farsa, a qual necessitamos. Outros (poucos, hoje em dia) amadurecem a mente e o coração. Observam o mundo com olhos de idosos, vivem cada dia com o vigor dos jovens. E no coração, esperam ansiosos como crianças.

Para estes, ocasionalmente chega o momento do questionamento. Quando você se encontra confiante e contente consigo mesmo. Feliz! Amado, por si próprio e por aqueles que o rodeiam. Nesse momento, a aproximação de um outro alguém chama-lhe a atenção e lhe recorda sensações guardadas há tempo. Tudo muito singelo é claro! Você lembra como é gostar de olhar para alguém e como é bom estar junto e conversar sobre assuntos em comum. Para muitos, esse é o momento de pular fora. Abandonar o navio antes mesmo de estar dentro dele. Outros, respiram fundo e aproveitam a viagem, sem saber para onde ela pode levar. Carregam consigo as experiências passadas e usam-as para facilitar o trajeto. Para mim, uma atitude nobre e invejável.

Sou fascinado pelas histórias dos casais que se conheceram cedo, dos primeiros relacionamentos que perpetuaram. O amor e a cumplicidade que existe entre eles é indiscutível. Mas eles jamais saberão como é se apaixonar de propósito. Nunca conhecerão a sensação de se jogar, conscientemente. Com todas as cicatrizes, escolher se entregar mais uma vez de corpo e alma. Sem os joguinhos da adolescência, mas com o medo constante de que as diretrizes da vida interferirão mais uma vez.
É então num piscar de olhos que tu não te pertences mais. Sua respiração já não depende de você. Agora, um outro alguém é responsável por ela. Seus lábios não parecem mais seus, pois falta algo longe daqueles outros lábios.

Seja como for, experiente ou não, todos voltamos a ser criança quando nos apaixonamos. O cômodo se faz vazio quando os olhares se cruzam. As palavras fogem à boca quando finalmente se aproximam. E o coração anseia em sair do peito ao menor toque entre as pobres vítimas que o cupido fizera.

Comentários

Unknown disse…
Como sempre arrasando nos textos! Adorei!
Defendendo um dos lados citatos, o fato de estar com alguém a algum tempo exige que você se apaixone de propósito e saiba se jogar de corpo e alma, aprendendo com os erros do passado e buscando sempre se apaixonar novamente. A vantagem é que (às vezes) você conhece o caminho para o coração alheio. Amar é algo intrínseco dos nossos sentimentos e muitas vezes não temos controle sobre isso, porém apaixonar-se é um exercício constante de admirar-se e admirar o outro, sempre desejando encontrar aquele detalhe que fará o coração pular novamente.
Unknown disse…
Concordo em número, gênero é grau. Muito provavelmente é uma tarefa ainda mais difícil. Mas longe de mim escolher um lado. Aliás, tenho uma inveja branca desse seu lado.
Mas realmente não tinha visto dessa forma, já que eu numa vivi esse lado.

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